PERÍODO: de 29 de setembro a 01 de dezembro de 2003, às segundas-feiras.
HORÁRIO
e LOCAL: Prédio de Ciências Sociais,
sala 120, das 19h30 às 22h30.
OBJETIVOS:
Fomentar
uma compreensão multidisciplinar da questão das “drogas”,
ressaltando a relevância da abordagem das ciências humanas.
Sistematizar
e difundir conhecimentos acadêmicos sobre os múltiplos
significados históricos e culturais associados às “drogas”.
Analisar
problemas contemporâneos referentes às “drogas” e seus
usos, tanto no contexto das sociedades “tradicionais” quanto no meio
urbano.
Incentivar
o intercâmbio entre a pesquisa acadêmica sobre as “drogas”
no campo das ciências humanas e os profissionais de saúde,
educação, direito e outros.
Fornecer
subsídios para o debate atual em torno das alternativas de
políticas públicas relacionadas às “drogas”.
ORGANIZAÇÃO:
Prof. Dr. Júlio Assis Simões (FFLCH /USP).
PROMOÇÃO: Departamento de Antropologia (FFLCH/USP)
CO-PROMOÇÃO:
Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (NEIP)
PROGRAMA:
Aula 1 (29/09/2003)
Apresentação - A Pesquisa sobre “Drogas” no âmbito
das Ciências Humanas
Prof.
Dr. Júlio Assis Simões (Antropologia/USP)
A
primeira aula buscará resumir o conteúdo global do curso
e introduzir de forma panorâmica a multiplicidade de significados
culturais dos consumos de psicoativos, apresentando ao aluno as formas
de abordagem da questão pelas ciências humanas.
Aulas 2 e 3 (06 e 13/10/2003)
As Drogas Psicoativas na História
Prof.
Dr. Henrique Soares Carneiro (História/USP)
Para se compreender o estatuto econômico, político, cultural
e científico das drogas, torna-se indispensável um olhar
histórico que desvende os nexos e interesses que buscam regulamentar
socialmente o consumo destas substâncias. As duas aulas, seguidas
de debate entre os participantes e da indicação de uma bibliografia
para os que desejarem um aprofundamento maior no tema, enfocarão,
a partir de um recorte cronológico, as épocas antiga, moderna
e contemporânea, de forma a percorrer as manifestações
do fenômeno do uso de psicoativos em sua lógica histórica.
Bibliografia
básica:
CARNEIRO,
Henrique. "Frutos proibidos pelo cristianismo" in Filtros,
Mezinhas e Triacas: as drogas no mundo moderno. Sâo Paulo, Xamã,
1994, pp. 21-35.
CARNEIRO,
Henrique. "O conceito de alucinógeno" in Amores e
Sonhos da Flora. Afrodisíacos e alucinógenos na Botânica
e na Farmácia. São Paulo: Xamã, 2002, pp. 137-147.
Bibliografia
complementar:
Escohotado,
Antonio. Historia de las DrogasVol. 1. Madri: Alianza,
1989. "Introducción" pp.9-29.
Aula 4 (20/10/2003)
História da Proibição do Uso de “Drogas”
Prof.
Ms. Thiago Rodrigues (Relações Internacionais/ Faculdade
Santa Marcelina)
A
proibição às drogas psicoativas, regime legal adotado
internacionalmente, tem suas origens em princípios do século
XX. Partindo da premissa de que a vedação ao livre uso de
drogas responde a demandas sociais demarcáveis e a estratégias
políticas de controle social, esta aula procurará rastrear
as procedências da proibição, enfatizando seu trajeto
nos EUA e no Brasil, chegando à análise das linhas críticas
ao proibicionismo: descriminalização, legalização
e liberação.
Bibliografia
básica:
RODRIGUES,
Thiago. Narcotráfico, uma guerra na guerra. São
Paulo: Desatino, 2003; pp. 25-47. Bibliografia complementar:
ESCOHOTADO,
Antonio. Historia elemental de las drogas. Barcelona: Anagrama,
1996; pp. 88-117.
PASSETTI,
Edson. Das ‘fumeries' ao narcotráfico, São Paulo:
Educ, 1991; pp. 17-53.
Aula 5 (27/10/2003)
O
Uso de Substâncias Psicoativas em Contextos Tradicionais
Prof.
Ms. Sandra Goulart (Doutorado Ciências Sociais/UNICAMP)
A
proposta é abordar o consumo de plantas psicoativas nas sociedades
tradicionais, enfocando sobretudo os contextos ritualísticos
nos quais estes consumos ocorrem. Serão discutidos, de forma geral,
casos como o uso da jurema entre os índios do Nordeste brasileiro,
tipos de rapé (pariká) utilizados no xamanismo de grupos
indígenas amazônicos, exemplos como aqueles dos cactos conhecidos
com San Pedro e peiote, ambos consumidos em contextos rituais etc. O objetivo
da exposição será apontar para os mecanismos culturais
que permitem o controle do consumo de plantas psicoativas.
Bibliografia
básica:
LABATE,
B., GOULART, S. e CARNEIRO, H. “Introdução” in LABATE, Beatriz
e GOULART, Sandra (orgs.). O Uso Ritual das Plantas de Poder. Campinas:
Ed. Mercado de Letras (no prelo) pp. 28-62.
Bibliografia
complementar:
SHEPARD,
Glenn. "Venenos Divinos: plantas psicoativas dos Machiguenga do Peru",
in: LABATE e GOULART (orgs.), op. cit., no prelo.
WILKELMAN,
Michael e SCHULTES, R. E. “The Principal American hallucionogenic plants
na their bioactive properties” in: WINKELMAN, M. E ANDRITZKY, Walter
(orgs.). Sacred Plants, Consciousness, and Healing. Yearbook
of Cross-Cultural Medicine and Psychotherapy. Berlim:
Verlag für Wissenschaft und Bildung, 1995, pp. 205-239.
Aula 6 (03/11/2003)
Um Panorama sobre o Uso Ritual da Ayahuasca no Brasil
Prof.
Ms. Beatriz Labate (Doutorado Ciências Sociais/UNICAMP)
Discutiremos
um caso particular de uso institucional de substâncias psicoativas,
o das religiões ayahuasqueiras brasileiras. Primeiro, será
apresentado um panorama histórico dos cultos da ayahuasca, mostrando
como ocorreu seu surgimento. Em seguida, abordaremos os desenvolvimentos
que estes cultos sofreram no contexto urbano, ligados ao movimento new
age (“nova era”).
Bibliografia
básica:
LABATE,
B. “A Literatura brasileira sobre as religiões ayahuasqueiras”
in: LABATE, Beatriz e SENA ARAÚJO, Wladimyr (orgs.). O
Uso Ritual da Ayahuasca. Campinas; Editora Mercado de Letras, 2002,
pp. 229- 271.
Bibliografia
complementar:
LABATE,
Beatriz. "Introdução", in: A Reinvenção
do Uso da Ayahausca nos Centros Urbanos. Campinas: Editora Mercado
de Letras (no prelo), pp. 1-52.
Aula 7 (10/11/2003)
O Consumo da Cannabis nos Centros Urbanos
Prof.
Dr. Júlio Assis Simões (Antropologia/USP)
Trata-se
de discutir, com base em pesquisas qualitativas, aspectos do uso regular
da cannabis entre adultos formalmente integrados no mercado de trabalho
e na sociedade de consumo no Brasil. Focaliza-se, principalmente, o desenvolvimento
de padrões de uso freqüente da erva, seguindo uma abordagem
inspirada no interacionismo simbólico e na “teoria da rotulação”,
de Howard Becker; e os mecanismos informais de controle social do consumo,
tendo em vista o enfoque tridimensional de Norman Zinberg.
Bibliografia
básica:
MACRAE,
Edward e SIMÕES, Júlio. Rodas de fumo: o uso da maconha
entre camadas médias urbanas. Salvador: Ed. da UFBA, 2000,
caps. 2 a 9, p.29-96, e cap. 14, p.133-139.
Bibliografia
complementar:
BECKER,
Howard. Uma teoria da ação coletiva. Rio de Janeiro:
Zahar, 1977, cap. 5 (“As regras e sua imposição”),
p.86-107; cap. 10 (“Consciência, poder e efeito da droga”), p.181-204.
Aula 8 (17/11/2003)
A
Produção Discursiva Contemporânea sobre a Questão
das “Drogas”
Prof.
Dr. Júlio Assis Simões (Antropologia/USP)
Monitor
Mauricio Fiore (Mestrando em Antropologia Social /USP)
A
partir do fato que a questão das “drogas”, diferentemente do uso
de substâncias psicoativas, é um fenômeno do mundo
contemporâneo, buscar-se-á traçar as principais lógicas
e sentidos da enorme produção discursiva sobre o tema. Desde
da estigmatização dos usuários até a perspectiva
da redução de danos, a aula apresentará uma reflexão
a respeito do debate público contemporâneo sobre o uso de
“drogas”.
Bibliografia
básica:
VARGAS,
Eduardo Viana. “Os corpos intensivos: sobre o estatuto social das drogas
legais e ilegais” In Duarte, Luis Fernando Dias e leal,
Ondina Fachel (orgs). Doença, Sofrimento, Perturbação:
perspectivas Etnográficas. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,
1998.
Bibliografia
complementar:
VELHO,
Gilberto. “Duas Categorias de Acusação na Cultura Brasileira
Contemporânea” In Individualismo e Cultura: notas para uma Antropologia
da sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
1987.
Aula 9 (24/11/03)
Controles
Sociais do Consumo de “Drogas”
Prof.
Dr. Edward MacRae (Antropologia/UFBA)
Considerando
que o uso de psicoativos acha-se necessariamente sujeito a controles de
ordem social e cultural, a aula focalizará diferentes contribuições
para a abordagem dessa dimensão, em termos de sanções
e rituais sociais formais e informais, estilos de sociabilidade e padrões
de estruturação e ordenação da vida cotidiana
dos usuários.
Bibliografia
básica:
MacRae,
E. “Antropologia: Aspectos Sociais, Culturais e Ritualísticos'
In: SEIBEL, S.D. e Toscano
Jr., A(orgs.) Dependência de Drogas. São Paulo:Atheneu,
2000, pags. 25-34
Bibliografia
complementar:
MACRAE,
Edward. “O controle do uso de substâncias psicoativas”. In: PASSETTI,
E. e Silva, R. D. B., orgs., Conversações abolicionistas:
uma crítica do sistema punitivo. São Paulo: IBCCrim/
PUC-SP, 1997.
MACRAE,
Edward e SIMÕES, Júlio Assis. Rodas de fumo: o uso da
maconha entre camadas médias urbanas. Salvador: Ed. da UFBA,
2000.
Aula 10 (01/12/2003)
Encerramento
- Alternativas para a Política de “Drogas”
Debate
entre Professores e Convidados
No
fechamento do curso, serão discutidas as diferentes propostas para
a política de “drogas” no mundo contemporâneo, mobilizando,
para isso, o arcabouço teórico levantado durante as discussões.
Devem ser convidadas personalidades que intervêm no debate
público atual em torno da questão.