Uso
de drogas: controvérisas médicas e debate público Mercado de Letras/Fapesp, 2007 Maurício Fiore
ISBN 978-85-7591-065-8
136 pp. Formato 16 x 23
cms
R$ 21,00
Tendo como pressuposto que a
questão das “drogas” foi, desde sua instituição
nas sociedades contemporâneas, erigida sob um estatuto medicalizado,
este trabalho buscou analisar o debate público atual sobre o
tema, por meio de um de seus componentes fundamentais: os discursos
médicos. O objeto de análise, além de uma observação
geral sobre a abordagem do tema na mídia, foi um conjunto de
falas e textos de médicos que ocupam cargos de direção
em instituições relacionadas ao uso de “drogas”
e vinculadas a duas das maiores escolas de medicina de São Paulo.
Com base em alguns recortes temáticos que explicitam as principais
controvérsias encontradas – como a abrangência do
termo “drogas”, a conformação de uma patologia,
as suas origens biológicas e as formas de classificação
do prazer proporcionado pelo uso –, são analisadas algumas
das grandes questões da medicina no mundo contemporâneo,
como a preservação da vida e o controle dos riscos. Além
disso, tomando como linha de corte uma nova forma de abordagem ao uso
de “drogas” – a Redução de Danos –
são discutidas, por fim, as principais divergências que
opõem os médicos pesquisados, como as diferentes ênfases
nos efeitos fisiológicos das substâncias e os limites da
noção de liberdade individual.
Este livro focaliza de modo inovador os discursos de dois atores centrais
no processo de construção do problema social das “drogas”:
a medicina e a mídia. Discutindo com cuidado e inteligência
as formas e circunstâncias em que se expressam publicamente os
saberes autorizados da medicina, Maurício Fiore expõe
a diversidade dos posicionamentos de profissionais ligados a algumas
das mais importantes instituições médicas e acadêmicas
brasileiras que lidam com “drogas”. Ao mesmo tempo, realça
as dificuldades para se estabelecer distinções nítidas
entre os pontos de vista dos médicos no debate público
sobre esse tema tão candente e ainda mal explorado pelas ciências
sociais. A análise dos sentidos e usos da própria noção
de “droga” mostra como as categorias médicas e as
do senso comum refletem-se e reforçam-se mutuamente, com implicações
que ultrapassam o mero esforço dos especialistas de se comunicar
de maneira acessível ao grande público. Os médicos
discorrem com desenvoltura sobre legislação e constroem
argumentos que apelam a questões de responsabilidades e direitos,
segundo o pressuposto de que o uso de “drogas” é,
em si mesmo, indesejável e perigoso. Na raiz da dificuldade de
exprimir qualquer sentido positivo sobre as “drogas”, como
bem mostra o autor, reencontramos a ênfase médica na preservação
da vida como valor moral a qualquer custo, revigorada pela obsessão
contemporânea com o controle de riscos, que desautoriza qualquer
precedência à intensidade, ao prazer e ao êxtase.
Sobre o autor Maurício
Fiore é bacharel em ciências sociais e mestre em antropologia
social pela Univer-sidade de São Paulo (USP). Atualmente é
doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP). Também é pesquisador do Centro Brasileiro de
Análise e Planejamento (CEBRAP) e do Núcleo de Estudos
Interdisciplinares sobre Psicoativos (NEIP). Há quase uma década
dedica-se ao estudo do fenômeno do consumo de substâncias
psicoativas, desde o debate científico até seus desdobramentos
sociais.